TEXTO DO MÊS – MARÇO/17 [THE BEGINNING]

ASSÉDIO SEXUAL NA REDE: UM PROBLEMA RECORRENTE PARA A MULHER

Acessar a internet já se tornou um hábito encrustado na sociedade moderna. Dezenas de redes sociais, aplicativos e sites são acessados diariamente, e na maioria das vezes, podem ser realizados de forma não-identificada, caso o internauta assim deseje.  Porém, o fácil acesso às redes sociais vem potencializando um problema recorrente da nossa sociedade: o assédio sexual a mulheres. Online, o assédio pode até não causar dor física, mas causa o mesmo constrangimento, intimidação e, em alguns casos, problemas psicológicos.

Segundo o instituto americano PewResearch Center que realiza pesquisas sociais, demográficas e de opinião pública em todo o mundo, cerca de 73% dos usuários de redes sociais já presenciaram alguma situação de assédio, e 40% alegaram já terem sido vítima desse comportamento.De acordo com os resultados, os homens estão mais suscetíveis a receberem ofensas virtuais, enquanto mulheres jovens são mais vulneráveis ao assédio e a perseguição virtual. As redes sociais são sim o ambiente preferido dos agressores, mas jogos online e seções de comentários em websites também são meios utilizados pelos agressores.

“Os assédios começaram quando coloquei solteira em meu status no Facebook”, observa a estudante de Administração, Juliana de 22 anos de idade. Ela continua: “Postei uma foto simples, só de rosto. A partir daí choveram comentários feitos por homens como gostosa, você é linda, quero te conhecer e manda seu whatsapp. Alguns deles, inclusive eram casados”.

Natália, estudante de dança de 19 anos também passou por uma situação semelhante ao postar uma foto de biquíni também pelo Facebook: “ Muitos homens vieram falar comigo, usando termos e expressões ofensivas e me chamando para sair. Eles viram a minha foto como um verdadeiro convite ao assédio e à falta de respeito. ”

Porém, o alvo dos assediadores não se resume somente a fotos de mulheres postadas em momentos de lazer. Mesmo em postagens relacionadas à vida profissional, as mulheres estão sujeitas a se deparar com o assédio sexual. Foi o que aconteceu com a professora e bailarina de dança do ventre Vanessa Soares ao postar uma foto do seu trabalho na rede: “A dança com cobra é uma das modalidades que trabalho. Postei uma foto deste tipo para ajudar na divulgação e tive uma surpresa totalmente desagradável. Homens de todos os tipos e jeitos apareceram no meu perfil e invadiram a minha janela de conversas com palavras de baixo calão e trocadilhos idiotas de duplo sentido; alguns nem da minha lista de amigos eram. No fim das contas, acabei cancelando a ação de divulgação, pois o assédio dos comentários prejudicou a foto e consequentemente, a minha imagem. ”

No Brasil, o crime de assédio virtual ainda não é tão denunciado pois encontra dificuldades para efetivar o processo de investigação e a sua punição; assim, a maioria das mulheres acaba lidando com os assédios de forma parecida: “Bloqueei e excluí os envolvidos, mas sempre aparecem homens novos”, diz Natália. “É preciso reconhecer as raízes do assédio. Enquanto tivermos uma sociedade machista e preconceituosa, estaremos sempre intimidadas e sujeitas a essas situações”, complementa Juliana.

Assim, levantar a voz contra o assédio sexual online não tem relação com moralismo: é uma questão de respeito para com a mulher. Enquanto mulheres se sentirem intimidadas para recusar um avanço sexual é sinal de que a cultura do estupro ainda está enraizada na mentalidade geral e que comportamentos potencialmente criminosos são cobertos pela sociedade. Assim, Vanessa dá o recado: “Não somos objetos dispostos as necessidades de homens, e sim, pessoas dotadas de inteligência, responsabilidades, vontades e escolhas. O respeito é a chave, deve sempre imperar em ambas as partes, e pra isso, é preciso que se reconheça o importante papel da mulher na sociedade”.

Bianca Carneiro – Bolsista do PETCOM